O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é uma importante reserva financeira para milhões de trabalhadores brasileiros. Criado com o objetivo de proteger os empregados em caso de demissão sem justa causa, o FGTS também pode ser utilizado em situações específicas, como na compra da casa própria, aposentadoria, doenças graves, e em casos de calamidade pública. Além disso, uma característica pouco compreendida do FGTS é a sua rentabilidade. Mas afinal, como funciona a rentabilidade do FGTS?
Neste artigo, vamos explicar o que é essa rentabilidade, como ela é calculada, compará-la com outras opções de investimentos e discutir as implicações para o trabalhador.
O Que é o FGTS?
O FGTS é um fundo composto por depósitos mensais realizados pelos empregadores em nome dos seus empregados, em uma conta na Caixa Econômica Federal. Todo trabalhador com carteira assinada no Brasil tem direito ao FGTS, que é constituído por uma contribuição de 8% sobre o salário do empregado (no caso de jovens aprendizes, a contribuição é de 2%).
Esse fundo só pode ser sacado em situações específicas, como demissão sem justa causa, compra de imóvel residencial, aposentadoria, ou em caso de doença grave. Enquanto o saldo permanece na conta vinculada ao FGTS, ele rende uma determinada quantia anualmente. Vamos entender melhor essa rentabilidade.
Como Funciona a Rentabilidade do FGTS?

A rentabilidade do FGTS é composta de duas partes:
- Juros anuais de 3% ao ano: Esse é o rendimento básico do FGTS. Independentemente do saldo, todo o montante na conta do FGTS cresce à taxa de 3% ao ano.
- Correção pela Taxa Referencial (TR): A TR é uma taxa que serve para corrigir diversos ativos financeiros no Brasil, incluindo o FGTS. A TR foi criada na década de 1990 e era usada para ajustar a inflação, mas há muitos anos a TR está em patamares muito baixos, próxima de zero. Por isso, seu impacto na rentabilidade do FGTS é praticamente inexistente atualmente.
Distribuição de Lucros do FGTS
Uma mudança importante na rentabilidade do FGTS ocorreu em 2017, quando o governo federal instituiu a distribuição de lucros do FGTS. A Caixa Econômica Federal, que administra o fundo, investe o saldo total do FGTS em projetos de infraestrutura e habitação, como o programa Minha Casa Minha Vida. Esses investimentos geram rendimentos e, desde 2017, uma parte desses lucros é distribuída aos trabalhadores que possuem saldo no FGTS.
A distribuição de lucros ocorre anualmente e o valor repassado aos trabalhadores varia conforme o resultado dos investimentos feitos pela Caixa Econômica. A cada ano, uma parte dos lucros obtidos com esses investimentos é dividida proporcionalmente entre as contas de FGTS dos trabalhadores.
Essa distribuição de lucros, somada à rentabilidade anual de 3%, melhora o retorno total do FGTS, mas mesmo assim, a rentabilidade total do fundo ainda é considerada baixa quando comparada a outros tipos de investimentos.
Exemplo de Rentabilidade do FGTS
Para entender melhor como funciona essa rentabilidade na prática, vejamos um exemplo:
Imagine que você tenha R$ 10.000 na sua conta do FGTS. Ao longo de um ano, esse valor vai render:
- Juros de 3% ao ano: R$ 10.000 x 3% = R$ 300
- TR (considerando que a TR seja zero, como tem sido nos últimos anos): não há acréscimo.
Ou seja, ao final do ano, seu saldo no FGTS será de R$ 10.300, sem contar a distribuição de lucros, que varia de ano para ano. Se a distribuição de lucros adicionar, por exemplo, 1,86% ao rendimento, como ocorreu em 2023, o saldo final seria de R$ 10.486.
Comparando com Outros Investimentos
Apesar da distribuição de lucros melhorar a rentabilidade do FGTS, ela ainda é consideravelmente menor que outras opções de investimentos disponíveis no mercado. Por exemplo:
- Poupança: Atualmente, a caderneta de poupança rende 0,5% ao mês + TR. Isso resulta em um rendimento anual em torno de 6,17% ao ano, dependendo da TR.
- Tesouro Selic: O Tesouro Selic, um dos investimentos mais seguros do mercado, rende próximo à taxa básica de juros (Selic), que em 2024 está acima de 13% ao ano.
- CDBs e Fundos de Renda Fixa: Investimentos em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e fundos de renda fixa geralmente oferecem retornos acima de 100% do CDI, que também acompanha a taxa Selic.
Em comparação, o FGTS tem uma rentabilidade anual fixa de 3% mais os lucros distribuídos, o que o torna uma opção de investimento menos atraente em termos de rendimento financeiro, especialmente em momentos de alta da taxa de juros no mercado.
Por Que o FGTS Tem Rentabilidade Baixa?

O FGTS tem uma rentabilidade baixa por uma razão simples: ele não é um investimento tradicional. O objetivo do FGTS é funcionar como uma reserva de emergência para o trabalhador em situações específicas, e não como uma forma de ganhar dinheiro ou aumentar patrimônio.
Por isso, os recursos do FGTS têm um rendimento garantido, mas muito conservador, já que o foco principal é manter o saldo protegido e disponível para o trabalhador quando ele realmente precisar, como em casos de desemprego ou compra da casa própria.
Além disso, o governo utiliza os recursos do FGTS para financiar programas de infraestrutura, saneamento básico e habitação popular. Esses investimentos têm uma função social importante, mas não oferecem retornos financeiros elevados como outros tipos de aplicações do mercado financeiro.
Vale a Pena Sacar o FGTS Antecipadamente?
Com a criação de modalidades como o Saque-Aniversário e o Saque Emergencial, muitos trabalhadores têm optado por retirar parte de seus saldos do FGTS antes dos momentos tradicionais de saque (como demissão ou compra de imóvel). Mas será que vale a pena sacar o FGTS antecipadamente?
A resposta depende da situação financeira de cada pessoa. Se você possui dívidas com juros altos, como as de cartão de crédito ou cheque especial, pode ser vantajoso sacar o FGTS e usar o dinheiro para quitar essas dívidas, já que os juros dessas dívidas são muito superiores à rentabilidade do FGTS.
Por outro lado, se você não tem uma emergência financeira, pode ser melhor deixar o saldo do FGTS intocado, especialmente se você não precisar dos recursos no curto prazo. Assim, o dinheiro continuará rendendo os juros de 3% ao ano mais os lucros distribuídos, e estará disponível caso surja uma necessidade futura, como em uma eventual demissão.
Conclusão
A rentabilidade do FGTS é composta por juros anuais de 3% mais a correção pela TR (que está zerada) e a distribuição de lucros anuais. Embora essa rentabilidade seja relativamente baixa, o FGTS desempenha um papel importante como reserva de emergência para os trabalhadores, sendo acessado em momentos de necessidade.
Se você está buscando formas de aumentar seus rendimentos ou tem interesse em opções de investimento mais rentáveis, o FGTS provavelmente não será a melhor escolha. No entanto, ele cumpre sua função de proteção ao trabalhador, garantindo uma segurança financeira mínima em situações adversas.
Para quem deseja usar o FGTS de maneira estratégica, o saque-aniversário ou saque emergencial podem ser opções, principalmente para quem enfrenta dívidas com juros altos. No entanto, é sempre importante considerar as vantagens e desvantagens de sacar o FGTS antes da hora, equilibrando segurança financeira e rentabilidade.
Formado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) e possui mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Iniciou sua carreira como analista em um grande banco, onde rapidamente se destacou no setor de crédito e financiamentos. Com sua expertise, João Pedro especializou-se em produtos como empréstimos pessoais e financiamentos com garantia do FGTS, ajudando milhares de clientes a escolherem as melhores soluções financeiras para suas necessidades. Atualmente, atua como consultor financeiro, oferecendo assessoria personalizada em crédito, sempre com foco em estratégias inteligentes para o uso de recursos do FGTS e outros produtos de crédito.